Contextualização
O interesse pelo estudo do ritmo, nas suas múltiplas configurações e entendimentos, tem sido flutuante, com períodos de intenso interesse, outros em que dificilmente aparece na esfera académica. Embora as primeiras referências ao conceito remontem ao século III D.P., uma panorâmica dos estudos sobre o ritmo demonstra que é na passagem do século XIX para o século XX que emergem teorizações sistematizadas sobre o ritmo, como problema científico e filosófico (Golston 1996; Henriques et al. 2014). Este interesse foi desencadeado pelos processos de transformação da modernidade, tais como a crescente urbanização, o desenvolvimento do sistema financeiro ou a fluidez das comunicações e do transporte. O ritmo assumiu a condição de intérprete geral da modernidade e das transformações que caracterizaram esse período, não só porque surgiu como a noção a partir da qual se podia estudar e compreender estas transformações, mas também porque se apresentava como o veículo privilegiado para as mudanças que se queria implementar. No entanto, esta concepção de modernidade não tem em conta os fenómenos extra-europeus na sua análise, esquecendo a sua integração numa história mundial e, mais concretamente, ignorando a sua relação com o colonialismo (Dussel 2000; Lugones 2008).
A elasticidade conceptual do ritmo, a sua amplitude e o fato de ser um termo pouco definido, permitiram que este fosse entendido e adoptado como um termo produtivo, por uma multiplicidade de disciplinas, multiplicando, assim, os campos interessados em estudá-lo, abordá-lo e modulá-lo. Não obstante a proliferação de estudos sobre o ritmo e o lugar central que ocupava nas diferentes disciplinas, práticas e investigações artísticas, não existia uma definição comum sobre esta palavra. Se nos detivermos na noção de ritmo utilizada em cada estudo, veremos que as suas conceptualizações são heterogéneas, resultado da complexidade do fenómeno rítmico e do facto de cada autor/a privilegiar um aspecto diferente de uma realidade complexa. Esta variação depende da área de conhecimento ou da área artística em que se desenvolvem esses estudos e, mesmo dentro de cada área, as perspectivas são múltiplas, dependendo de quem os estuda ou do corpus de investigação.
Actualmente, assistimos a uma crescente atenção à noção de ritmo e à consolidação deste emergente campo de estudos, como demonstra a proliferação de publicações só nos últimos dois anos (e.g. Lyon 2022; Michon 2021; Crespi & Mangani 2020; Barletta 2020), bem como projetos de investigação ou eventos dedicados ao ritmo e à sua análise (e.g. na Argentina: EIRA – Grupo de Investigação o Ritmo nas Artes/ UNA; Projeto A experiência rítmica na arte do actor. Aproximações teórico-metodológicas à problemática do ritmo, desde a investigação baseada na prática artística/ UNICEN; Congresso Nacional e Internacional de SEMA. Forma e Ritmo/ SEMA; Jornadas Internacionais sobre o Ritmo nas Artes/ UNA). 
Em 2019, realizámos em Buenos Aires a I Conferência Internacional o Ritmo na Arte, da qual resultou a publicação Estética y Política del Ritmo (Coelho & Zorrilla 2020). Nesta segunda edição, abrimos também uma chamada internacional a trabalhos que se dediquem a investigar as relações entre o ritmo e a arte. O ritmo é um elemento central na criação de sentido na arte e a sua configuração é tal que requer uma abordagem multi, inter e transdisciplinar. A diferença de materiais, procedimentos e acontecimentos dissimula a semelhança de fenómenos rítmicos que são similares em diferentes artes e ocultam a sua identidade ou a sua homologia. Na obra de alguns estudiosos e estudiosas aparecem conceitos que não pertencem propriamente a nenhuma disciplina artística particular, mas que são próprios do fenómeno rítmico. O objetivo deste encontro é proporcionar uma instância de intercâmbio de conhecimentos, inquietudes e aspirações daqueles/as que se têm dedicando ao pensamento e à criação artística em torno do ritmo. Embora existam numerosas plataformas digitais, através das quais os autores e autoras comunicam as suas investigações e as pessoas interessadas podem aceder a elas, sentimos que é necessário um maior número de âmbitos de intercâmbio interpessoal, onde as ideias possam ser discutidas pessoalmente e expostas à crítica. Esta conferência pretende ser um espaço para que estes encontros se possam concretizar. 

Apresentação de comunicações segundo eixos temáticos. Convidamos investigadores/as , artistas, interessados/as em reflectir sobre os encontros e desencontros entre o ritmo e a arte, nos seguintes eixos orientadores: 

  • Ritmo e sentido. O lugar do ritmo e da sua análise na criação de sentido na arte
  • Ritmo e linguagem. Ritmo, sentido e sujeito no discurso, para além da semântica 
  • Ritmo e rítmica. Práticas rítmicas e as suas bases teóricas explícitas e implícitas
  • Ritmos e materialismos. Os ritmos da matéria na arte, para além do humano
  • Ritmo e forma. Possibilidades de uma descrição formal do ritmo em diferentes artes
  • Ritmo e norma. Subjetividades, identidades e normatividades no fenómeno rítmico
  • Ritmo e sociedade. O ritmo na arte e a sua relação com os ritmos sociais e políticos
  • Ritmo e pesquisa baseada na prática. Pesquisa artística do ritmo na arte
  • Ritmo e educação. Maneiras de abordar a problemática do ritmo na pedagogia

Modalidades de apresentação: O formato pode incluir, para além da apresentação oral, apresentação conjugada com práticas relacionadas ao conteúdo da comunicação, vídeo-ensaio, performance-conferência ou outras modalidades a explicitar no envio de proposta de comunicação. 

Idiomas: As comunicações podem ser apresentadas em castelhano, inglês, francês e português.

Pautas para a apresentação de resumos: Extensão máxima de 250 palavras. Deverão contemplar, num só documento Word, Título, Nome e sobrenome (autor/a ou autores/as), Referências bibliográficas, Nota biográfica (autor/a ou autores/as) (máximo 150 palavras) e dois (2) eixos em que a sua apresentação pode ser integrada. Indicar, ainda, os requerimentos técnicos básicos para a apresentação. Enviar para o mail conferenciacira@gmail.com com o assunto “Resumo”.

Datas importantes
Prazo para a envio de resumo: 15 de novembro de 2022. Extensão do prazo até: 30 de novembro de 2022
Comunicação de aceitação das propostas de comunicação: 20 de dezembro de 2022
Divulgação do programa (provisório): 30 de janeiro de 2023
Prazo para inscrição antecipada: 28 de fevereiro de 2023
Divulgação do programa definitivo: 31 de março de 2023
Conferência em Buenos Aires: 10, 11 e 12 de maio de 2023
Prazo para envio das comunicações para publicação (a selecionar em processo de revisão de pares): 30 de Setembro de 2023 

Publicação das comunicações: Os/as participantes serão convidados/as a enviar a versão escrita de suas comunicações, para seleção por pares, com vista à publicação em livro colectivo (publicação estimada para o segundo semestre de 2023). 

Bibliografia
BARLETTA, Vincent (2020), Rhythm: Form and dispossession, Chicago, IL: University of Chicago Press.
COELHO, Salomé & ZORRILLA, Aníbal (2020) (Eds.), Estética y Política del Ritmo. Paris: Rhuthmos.
CRESPI, Paola & MANGHANI, Sunil (2020), Rhythm and Critique. Technics, Modalities, Practices, Edinburgh: Edinburgh University Press.
DUSSEL, Enrique (2000), “Europa, modernidad y eurocentrismo” In Edgardo Lander, La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, p.41-53.
GOLSTON, Michael (1996), “‘Im Anfang war der Rhythmus’: Rhythmic Incubations in Discourses of Mind, Body, and Race from 1850-1944”, Stanford Humanities Review, N.5.
HENRIQUES, Julian, Milla Tiainen & Pasi Väliaho (2014), “Rhythm returns: Movement and Cultural Theory”, Body & Society, Vol.20 (3&4), p.3-29.
LYON, Dawn (Ed.) (2022), Rhythmanalysis: Place, Mobility, Disruption and Performance, Bingley: Emerald Publishing.
LUGONES, María (2008), “Colonialidad y género”, Tabula Rasa, N.o 9, p.73-101.
MICHON, Pascal (2022), Problèmes de rythmanalyse, 2 Vol., Paris: Rhuthmos.